O psicoterapeuta disse que sou hiperativo. A criação deste blog surgiu pouco depois de ser assim diagnosticado. Segundo o site especialista Hiperatividade (que já existia antes do meu blog, mas eu não sabia!), os portadores deste distúrbio são freqüentemente rotulados de "problemáticos", "desmotivados", "avoados", "malcriados", "indisciplinados", "irresponsáveis" ou, até mesmo, "pouco inteligentes". Mas garante que "criativo, trabalhador, energético, caloroso, inventivo, leal, sensível, confiante, divertido, observador, prático" são adjetivos que descrevem muito melhor essas pessoas. Eu, particularmente, creio que sou uma mistura disso tudo aí. Cheio de muitas idéias, muitos sonhos e muitos projetos. Muita vontade e muito trabalho. Muitas vertentes e muitas atividades. Sou editor-adjunto do Crônicas Cariocas. Não deixem de visitar minhas colunas: Cinematógrafo; Crônicas; Poesias; e HQs. Ah! Visitem o Magia Rubro Negra , site de apaixonados pelo Mengão, para o qual tive o prazer de ser convidado a fazer parte da especial equipe!!!

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

DEPOIMENTOS: 5. Tito


A proximidade dos quarenta anos tem me deixado nostálgico, buscando lembranças dos “bons tempos”. Aqueles em que não me preocupava com as contas a pagar, em que me sentia invencível e eterno e em que o mundo era muito mais simples: sexo, drogas e rock and roll, mesmo que minhas drogas fossem o álcool e a nicotina do hoje maldito cigarro. Eu era feliz e não sabia.

Com a nostalgia, não sei o porquê, veio a autoavaliação. Descobri-me meu maior crítico (“Se for falar mal de mim, chame-me! Sei coisas terríveis a meu respeito.”)! As verdades que descobri de mim mesmo deixam-me envergonhado e triste. Com isso, vem uma solidão enorme, um vazio maior ainda, uma necessidade incomensurável de mudanças e a estúpida constatação de que não tenho a menor ideia de como mudar coisa alguma.

Hoje, acordei desanimado. Uma dor no ombro direito que me incomoda há dias, mas que resolveu se fazer mais presente nessa madrugada e me acompanhar durante o dia. Entrei no táxi para ir para o trabalho e, ao ligar o tablet, escutei: “Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu.”, da música “Roda Viva”, do tricolor Chico Buarque. Sorri, um sorriso besta, e pensei comigo mesmo há quanto tempo venho me sentindo assim. Nem sei mais dizer.

A psicóloga do meu filho diz-me que tenho que valorizar menos as coisas ruins e devo encontrar aquilo que me faz feliz. Mulher inteligente. Gosto dela e gosto de conversar com ela, mas não consigo fazer o que diz e que, da maneira que fala, parece tão fácil. Nessas horas, sinto-me burro, incapaz e impotente. Queria ser tão capaz e tão inteligente quanto as pessoas acham que eu sou. Aliás, sempre penso que estou desapontando os outros por conta disso.

Quarenta anos e, ao olhar para trás, não vejo nada que preste além dos meus filhos.  O que fiz durante esse tempo? O que construí? O que realizei? O que é digno de nota e de orgulho? Sinto que minha vida é uma imensa perda de tempo, que tudo que eu fiz e faço vale nada e que não represento diferença alguma. Sei que algumas pessoas gostam de mim e que outras me amam. Sei disso. O que sinto é que não faria falta em suas vidas, a menor diferença se estivesse ali ou não. Mesmo para meus filhos, que amo mais que tudo e todos, não sei se sou realmente necessário, se sou uma figura paterna relevante ou apenas um provedor de recursos. Sei que não faz sentido, mas, mais uma vez, é como me sinto.

Não são apenas os filhos. O que represento para meus pais? Para meus irmãos? Para meus parentes? Para meus amigos, próximos e distantes? Para as mulheres que passaram pela minha vida? Será que essas pessoas lembram-se de mim por coisas boas ou apenas pelas muitas falhas? Será que se lembram com carinho ou com ódio? Com simpatia ou rancor? Fui machucado pelo caminho, mas tenho minhas dúvidas se não magoei muito mais que sofri. Por que diabos sinto tanta culpa?

Desde que me separei, há dois anos e meio, foram inúmeros relacionamentos, em sua grande maioria, fúteis e vazios. Na minha ânsia de “voltar ao mundo”, como se estar casado fosse uma prisão – que não é –, machuquei muita gente que não merecia. Pessoas boas que magoei, não intencionalmente, mas que se machucaram mesmo assim. Também encontrei algumas que me decepcionaram, mas que, sendo sincero, não me magoaram porque, na verdade, eu não me importava com elas. Foram apenas pessoas com as quais dormi, mesmo que eu tenha tentado me convencer que me relacionava ou namorava.

Não sei se é essa incapacidade de sentir algo que tem me feito sentir como tenho me sentido. Essa sensação de coração vazio, quebrado e inutilizado. Acredito que sim, mas também creio estar errado. A verdade é que eu não sei. Só tenho dúvidas, nenhuma certeza além daquela com a qual nasci: um dia terei realmente partido, morrido. Apenas não sei quando, mas também não faço a menor questão de saber.

O que eu faço para ganhar a vida é honesto, mas é algo que detesto fazer, ainda mais com determinadas pessoas que tornam tudo mais difícil com suas picuinhas e seus egos inflados. É, porém, o que me dá sustento e me permite dar um mínimo de educação e proteção de saúde aos meus filhos. Também é, infelizmente, o que me prende. Não posso me dedicar ao que gosto, que acredito que me dará um futuro melhor, porque preciso do pouco dinheiro que o detestável garante. Assim, vou me consumindo nesse inferno.

“Roda viva, roda gigante”. Como o brinquedo do parque, roda, roda, mas não sai do lugar. É como remar contra a maré. Estou cansado. Não desisti, mas estou cansado. Tanto que não tenho conseguido fazer nem aquilo que gosto: escrever, criar histórias, literatura e cinema. Olhei para a tela e resolvi digitar o que saísse da mente. Resultado: consigo escrever, mas não o que me importa, apenas este desabafo que mais parece coisa de um maníaco depressivo e suicida.

Depois de quarenta anos, com a convicção que, pela média, tenho aproximadamente mais quarenta, só resta um caminho a seguir. Buscar forças em mim mesmo para mudar o panorama, para tentar de novo, para preencher os espaços vazios, para criar, para fazer diferença, para deixar, pelo menos, uma pequena marca, para não apenas passar pela vida.

Sou feito de cacos, mas não estou quebrado. Sou uma leva de cacos, juntados num monte. Pequenos pedaços variados de mim mesmo. Com pensamentos conflitantes, algumas vezes aleatórios, outras, contundentes. Só sei que meus eus são inúmeros, mais que trezentos, e nunca bastam. Hei de seguir acreditando, tendo esperança em mim mesmo e crendo com todas as forças que amar não é o mesmo que sofrer, que amei muito, que amarei de novo, que realizarei meus sonhos e que o coração não ficará vazio para sempre. Que venham mais quarenta anos, pois é tempo de me reinventar!

Jogo


A gente chega a um ponto na vida em que percebe que ela é nada do que a gente imaginava. Ela ensina que o que aprendemos é pouco e que esse pouco, quase sempre, é relativo. São tantas variáveis, tantas maneiras de se interpretar. Como diriam os mais jovens, a vida trolla a gente, sem dó, piedade ou compaixão. A vida é impessoal e não está nem aí.

As decepções são tantas. Os segredos e as vergonhas acumulam-se. Guardamos tudo dentro de nós a ponto de nos fazer mal. Não confiamos em mais ninguém para confidenciar ou mesmo desabafar. Temos medo de ser julgados, independente de haver ou não um veredito justo. Não queremos julgamento, queremos compreensão, apoio e permuta de experiências.

Os tombos foram tantos. As cicatrizes, profundas e feias, são eternos avisos de “perigo”, “não confie”, “você se decepcionará de novo”, “essa pessoa vai te sacanear” e por aí vai. Fica difícil, quase impossível, abrir-se de novo. Resultado: você se convence de que fica melhor sozinho. Mas a solidão chega e, por mais que você não queira admitir, sente falta de um alguém que possa ouvir e falar sem falsos pudores, que se importe com você e não com as coisas que fez.

O problema é que toda essa segurança, toda essa proteção, toda essa desconfiança, todo esse receio, todo esse medo, essa merda de casulo em que você se enfia, deixa-o cego para quando a pessoa aparece. Ela vem e você não a percebe ou não acredita. O bom é que a pessoa nunca vai embora, nunca desiste. Ela não insiste, não pressiona. Às vezes se afasta, mas está ali, esperando ser notada. Ela sabe que tudo depende de você.

Há um porém. Ela também é igual a você. Precisa das mesmas coisas. Sente-se sozinha e não gosta disso. Também tem dúvidas. Aí, você a vê com alguém e pensa que ela é volúvel, que não o quer de verdade e você se decepciona, mas não por causa dela, decepciona-se por causa das experiências passadas que o levam a julgar da maneira que não queria ser julgado.

Alguns conseguem criar um casulo e afastar todos e tudo. Ficam totalmente sozinhos, mesmo se machucando no processo. Outros não conseguem ficar sozinhos e pulam de relacionamento em relacionamento na vã esperança de encontrar aquela pessoa, que ela sabe quem é, mas que demora tanto que a enche de incertezas.

De incertezas em incertezas, vamos vivendo, deixando “a vida nos levar” ou nos trollar. Sabendo, entretanto, que só depende de nós qualquer passo. Fechar-se em um casulo é uma segurança relativa, pois a consequência é passar pela vida e não a viver. É necessário arriscar-se, não se ganha na loteria sem jogar.

A vida é o jogo, o amor é o risco e ser feliz é o prêmio. Muitas vezes, nessa loteria, faremos alguns pontos ou ponto nenhum. Em alguns momentos, ficaremos a um ponto da premiação máxima. Mas, com muita insistência e alguma ventura, podemos tirar a sorte grande. É necessário arriscar. Vamos jogar!