O psicoterapeuta disse que sou hiperativo. A criação deste blog surgiu pouco depois de ser assim diagnosticado. Segundo o site especialista Hiperatividade (que já existia antes do meu blog, mas eu não sabia!), os portadores deste distúrbio são freqüentemente rotulados de "problemáticos", "desmotivados", "avoados", "malcriados", "indisciplinados", "irresponsáveis" ou, até mesmo, "pouco inteligentes". Mas garante que "criativo, trabalhador, energético, caloroso, inventivo, leal, sensível, confiante, divertido, observador, prático" são adjetivos que descrevem muito melhor essas pessoas. Eu, particularmente, creio que sou uma mistura disso tudo aí. Cheio de muitas idéias, muitos sonhos e muitos projetos. Muita vontade e muito trabalho. Muitas vertentes e muitas atividades. Sou editor-adjunto do Crônicas Cariocas. Não deixem de visitar minhas colunas: Cinematógrafo; Crônicas; Poesias; e HQs. Ah! Visitem o Magia Rubro Negra , site de apaixonados pelo Mengão, para o qual tive o prazer de ser convidado a fazer parte da especial equipe!!!

domingo, 26 de junho de 2011

Intercurso

Rômulo mora no Grajaú, zona norte do Rio de Janeiro. Ele, seus pais, seu irmão mais velho e sua irmã caçula. Enfrentam as dificuldades comuns a uma família de classe média, mas são felizes e não passam necessidade. O pai possui um pequeno restaurante no bairro e a mãe é uma boleira de mão cheia, daquelas que não consegue dar conta de todas as encomendas que aparecem. Investem nos filhos com uma educação que, se não é a melhor, é acima da média.
São frequentadores assíduos da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em frente à Praça Edmundo Rego, bem pertinho de casa. Uma família de católicos praticantes que seguem os mandamentos e que recebem os sacramentos. Não são ortodoxos, mas fervorosos. Uma fé verdadeira e inabalável. Não têm dúvidas que tudo o que construíram, e o que ainda construirão, é por meio da graça divina.
Rômulo é o segundo filho da família Pontes. Recém-saído da puberdade, um rapaz alto e de ombros largos. Não é o tipo musculoso, mas forte, aquele tipo que se costuma chamar parrudo. É um rapaz tímido, introvertido e respeitador. Ele é um símbolo de virtude. O que, aliás, é uma coisa muito difícil, visto que vive em guerra com os próprios hormônios. Seus maiores companheiros são os livros e o computador. Ler e escrever são o mundo dele. É comum encontrar o jovem no seu quarto lendo ou digitando o teclado do seu notebook.
Luz do quarto apagada, mas o abajur no criado mudo ligado. Rômulo cochila com o livro “Insônia”, de Stephen King, aberto sobre seu peito. Sem perceber, é claro, a ironia nisso. A respiração normal dá lugar a uma ofegante, os olhos mexem-se continuamente, cada vez mais rápido, por sob as pálpebras fechadas. O suor começa a brotar em sua testa. Como se explodisse, acorda catapultando o corpo para frente. Olha para os lados, situando-se. Começa a se acalmar, pega o livro que caiu no chão, joga-o na cama e pega o celular na cabeceira na cama. Duas da manhã. De repente, a energia é cortada. Não enxerga um ponto de luz sequer, nem mesmo pela janela. A única luminosidade vem do tênue luar.
Ele pensou em voltar a dormir, mas o barulho de vidro se despedaçando chamou sua atenção e ele decidiu verificar o que tinha acontecido. Ligou o aplicativo flashlight do celular e saiu do seu quarto. Chamou por seus pais e não houve resposta. Chamou seu irmão e nada. O quarto dos pais estava vazio. O do irmão também. O quarto da irmã estava com a porta fechada. Tentou abrir e não conseguiu. Escutou o choro dela e se preocupou. Pediu que ela abrisse a porta, mas não foi atendido. O choro ficou mais alto. Ele começou a forçar a fechadura, chamava pela irmã, parecia querer arrancar a porta do lugar, mas não adiantava. Começou a dar trancos com o ombro na porta, mas ela não cedia. E então ele escutou a menina gritar. Ele deu espaço da porta e se jogou em direção a ela. De nada adiantou. O grito cessou e um silêncio sepulcral seguiu-se. Ele chorou desesperado e encostou a testa na porta. Ela abriu como se estivesse apenas encostada. Entrou no quarto, procurou, procurou e não encontrou vivalma.
Saiu do quarto da irmã, passou pelo banheiro, que estava aberto e desocupado, e foi para as escadas. Descendo devagar, arriscava chamar a família, mas não recebia resposta alguma. O nervosismo e o medo vieram em profusão. Não entendia o que estava acontecendo. Onde estariam todos? As escadas acabavam em um corredor. À esquerda, copa e cozinha. À direita, banheiro social e sala de estar. O nervosismo era tal que a boca estava seca. Decidiu beber água. Passou pela sala de jantar e chegou à cozinha. Um estalo de vidro partindo. Iluminou o chão e viu cacos do que deveria ser um copo. Pegou um copo e foi à geladeira. Abriu-a e pegou uma garrafa a esmo. Encheu o copo. Ao beber, sentiu a textura e o gosto de sangue. Instintivamente, cuspiu e largou o copo, que se espatifou no chão. Iluminou o chão com o celular, mas só viu vidro e água.
O aparelho em sua mão emitiu um sinal sonoro que indica que a bateria estava acabando. Procurou velas para não ficar na escuridão. Achou uma no armário da cozinha. Pegou um pires, acendeu a vela, derreteu um pouco a parte de baixo e fixou no pequeno prato. Ao levantar a cabeça, viu uma moça parada no corredor, pouco antes da entrada da cozinha. Não conseguiu esboçar uma reação, a beleza da menina era estonteante. Longos cabelos pretos que caíam sobre ombros nus. Ela usava algo como um corpete escuro e uma saia, também escura, que delineava seu corpo. Parecia saída de um dos vídeos hentai que mantinha escondidos no seu lap top. No tremeluzir da vela, as sombras deram a impressão de que havia asas nas costas dela. Um estrondo de trovão desviou a atenção de Rômulo por um momento, que olhou para a janela atrás dele. Quando voltou o olhar para frente, a moça sumia, correndo na escuridão no final do corredor.
– Espera! – mas ela não esperou.
            Ele desatou a correr atrás dela. A vela em cima da mesa tremeluziu e apagou. Ao chegar à sala, ele escorregou e caiu de costas no chão. Algo úmido e pegajoso em toda sua volta. Um relâmpago e percebeu que estava em meio a muito sangue. Outro clarão e viu seus pais, pálidos e ensanguentados, à sua esquerda. Outro clarão e viu seu irmão, do mesmo jeito, à direita. Mais um relâmpago e viu sua irmã, sua pequena irmãzinha, olhando-o de cima, em pé atrás da sua cabeça. Sua pele alva demais, seus lábios negros como o entorno dos seus olhos e estes, sem íris e sem pupilas, apenas esclera. Ela levantou o braço e apontou a porta da rua. Nela, pintada com sangue, uma cruz irregular e de cabeça para baixo. Mais um relampear e ele se viu sozinho, deitado em chão limpo e a rua aparecendo pela porta aberta.
            Levantou, ainda sem entender o que estava acontecendo, mas decidiu correr para a rua. Nada em casa fazia sentido mesmo. Ventava forte, o céu estava negro. Raios rasgavam o céu, seguidos dos ensurdecedores trovões. A exemplo de casa, não viu uma pessoa sequer. Pensou se seria possível que todos tivessem sido arrebatados e apenas ele tivesse sido deixado para trás. Será que aquilo era o início do apocalipse bíblico? Avistou então a bela garota, que estava em sua casa, ao longe, no final da rua. Mal a viu e ela começou a correr em direção oposta à dele. Sem saber o que fazer, decidiu ir atrás dela. Em sua disparada, acabou chegando à Praça Edmundo Rego. A praça estava como fica nos finais de semana: os acessos a carros, fechados; as barraquinhas de produtos artesanais; os carrinhos e as motos elétricas que são alugadas para as crianças brincarem; as charretes; os carrinhos de pipoqueiro; as bicicletas; etc., mas sem quaisquer pessoas ou bichos.
            Do outro lado da praça, em frente à igreja, a garota olhava para ele. O cabelo esvoaçava ao sabor do vento. Ele continua tendo a impressão de ver asas atrás dela. O vento ficou mais forte, derrubando as bicicletas que ainda estavam em pé, virando barraquinhas, carrinhos e motos elétricas e empurrando os carrinhos de pipoqueiro para os lados. De repente, um raio atingiu a árvore próxima a ele, partindo-a. Um pedaço caiu por cima de um carro explodindo os vidros, fazendo um enorme estrondo e disparando o alarme do veículo. Ao olhar de novo para a igreja, a garota havia sumido, mas conseguiu observar a porta se fechando. Correu, com dificuldade, quase caindo algumas vezes, para a igreja. A grade da frente estava aberta, subiu o pequeno lance de escadas e tentou a porta da casa divina.
            Rômulo entrou, mas não passou do nártex, pois não enxergava nada à sua frente. A escuridão era densa, quase palpável. A única luz vinha da porta aberta. Ele tentou voltar, mas mesmo tendo dado poucos passos ao entrar, não conseguia alcançar a porta, que lentamente se fechava. A porta bateu ao mesmo tempo em que trovejou forte. Não dava para saber ao certo se o enorme som era da porta fechando ou de um dos trovões que insistiam lá fora. Não fazia diferença agora, o silêncio era tão absoluto quanto a escuridão. O medo dominou-o de vez. Com ele, veio o desespero e a nauseante sensação de impotência. Caiu de joelhos ao chão, colocou as mãos no rosto, arqueou o corpo e começou a chorar copiosamente.
– Deus, ajude-me! – Suplicou.
            O som de um grande porta movendo-se tirou-o do estupor. Ao olhar para frente, a nave da igreja estava toda iluminada, mas era totalmente diferente da que ele se lembrava. Portas gigantescas descortinavam um caminho em meio à escuridão à sua volta. Levantou-se desconfiado, mas reuniu coragem para passar pela porta. Percebeu que a iluminação era oriunda de grandes velas distribuídas ao longo do corredor. Ao caminhar em direção ao altar, observou que arcos separavam a nave principal das colaterais. Sob cada arco, havia uma cruz e em cada uma delas havia alguém crucificado. Na verdade, corpos mumificados. Não havia sangue. Era como se cada corpo tivesse sido pregado na cruz depois de totalmente ressecado. Era simplesmente apavorante. Ele tentava não olhar, mas não conseguia. Andava devagar, olhando para todos os lados com medo de que alguém ou algo tentasse pegá-lo. Os bancos ao longo da nave estavam repletos de pessoas sentadas trajando mantos negros, que pareciam não se importar ou achar normal ter crucificados à sua volta. Eles rezavam uma ladainha ininteligível. Ao levantarem, Rômulo percebeu que os fiéis eram nada mais que esqueletos vestidos.
            Ao chegar ao transepto, a visão era um misto de beleza, assombro e terror. A abside era toda trabalhada, magnífica. No centro dela, uma enorme cruz com o Cristo crucificado e, de cada lado dele, uma cruz com uma mulher nua crucificada ainda com vida. No presbitério, nada inanimado, apenas a linda garota que Rômulo perseguia desde sua cozinha. Ela sorria e era uma imagem convidativa e apaixonante, fazia-o esquecer toda a loucura que vivera até ali. Seu coração acelerou e os hormônios faziam seu corpo latejar. Ele não se conteve e caminhou até ela. A garota emanava um calor reconfortante e exalava um cheiro intoxicante, era pura magia. Rômulo estava louco por ela. Eles se abraçaram e se beijaram com volúpia. Deitaram-se, ele de costas, ela por cima. A saia não deixava que se visse coisa alguma, mas era óbvio que estavam com os corpos unidos como a natureza concebeu que um homem e uma mulher deveriam se conectar.
– Qual o seu nome? – conseguiu perguntar.
– Lilith – ela respondeu arrancando-lhe a camisa.
            Rômulo soltou o colete da garota enquanto se movimentavam lenta e sensualmente. Ele não percebia, ou não queria perceber, mas eram observados pelas mulheres crucificadas, que sorriam maliciosamente. Lágrimas de sangue escorriam dos olhos do pétreo Cristo. A ladainha dos mortos aumentou o volume. Subitamente, enormes asas de couro abriram-se nas costas da menina, enquanto ela arqueava o corpo para trás sobre o corpo do entregue jovem, que a achava ainda mais linda. A respiração tornou-se ofegante prenunciando o momento do êxtase. A ladainha, a respiração ofegante e os gemidos do casal misturavam-se. Os olhos da menina estavam diferentes, não havia íris ou pupilas, eram apenas escleras negras. Foi a última imagem que viu, pois fechou os olhos no momento do prazer sublime e tudo virou escuridão... e silêncio.
            A polícia não sabia com o que estava lidando. Não havia sinal de vandalismo ou mesmo de invasão à Igreja. Havia apenas um corpo em frente ao altar. Mas não era apenas um corpo, era um jovem mumificado que, em vez de estar coberto por faixas mortuárias de algodão ou linho, estava completamente nu. Nada indicava quem era o rapaz ou como havia chegado ali. Fiéis lotavam a igreja tentando saber o que acontecia ou tentando ver a múmia. Para completar a estranheza da situação, havia uma palavra entalhada em sua testa: súcubo.
– O que quer dizer essa palavra? – perguntou um dos policiais, visivelmente impressionado com o defunto à sua frente.
– Dizem as lendas que é um demônio mulher que invade o sonho dos homens para se alimentar da energia vital deles por meio de uma conjunção carnal – respondeu o pároco da Igreja.
            Os policiais olharam-se com ceticismo e certo ar de riso, mas o padre logo emendou:
– É claro que isso só pode ser fruto da imaginação fértil e doentia do criminoso.
           A família Pontes passou pela porta da Igreja e caminhou em direção à aglomeração para descobrir o que estava acontecendo e se tinha a ver com o sumiço do filho. A caçula percebeu uma garota de longos cabelos pretos, usando um corpete escuro e uma saia, também escura, parada na porta. Elas se olharam por um breve momento. A súcubo sorriu, virou-se lentamente e foi embora.


sexta-feira, 10 de junho de 2011

Um Violinista no Telhado

Galera, assisti ontem e achei ótimo! Um espetáculo maravilhoso, com um elenco afiado e um cenário fantástico. A cena do sonho do personagem de Mayer é empolgante! Sem dúvida, uma noite inesquecível!

Com direção de Charles Möeller e Claudio Botelho, o espetáculo é o primeiro musical de José Mayer

O título da mais nova produção musical de Charles Möeller e Claudio Botelho, ‘Um Violinista no Telhado’, é também a expressão que melhor define a vida de seu protagonista. Pai de cinco filhas, o rústico Tevye é o leiteiro de um vilarejo judeu encravado na Rússia Czarista.nbsp; Sempre em conflito para sobreviver e honrar as tradições religiosas, ele enfrenta problemas tanto dentro – as filhas se rebelam contra os casamentos arranjados – quanto fora de casa, em uma época que ataques russos (os chamados pogroms) expulsariam milhões de judeus da região.
Baseado nos tradicionais contos judaicos de Sholom Aleichem, ‘Um Violinista no Telhado’ estreou na Broadway em 1964, com música de Jerry Bock e Sheldon Harnick e uma celebrada coreografia de Jerome Robbins. Tornou-se imediatamente um clássico, sendo o primeiro musical da história do teatro americano a ficar em cartaz por mais de sete anos. Quase meio século depois, o musical ganha nova versão brasileira a partir de 20 de maio, no palco do Oi Casa Grande. Fruto de uma parceria entre a Aventura Entretenimento e a Conteúdo Teatral, a superprodução reúne elenco de 43 atores liderado por José Mayer, que faz sua estreia no teatro musical.

Embalados pelo recente sucesso de ‘Hair’ e ‘Gypsy’ no ano passado, Möeller, Botelho e a Aventura se uniram à produtora paulista Conteúdo Teatral para apostar neste clássico do teatro musical americano. O projeto já é avaliado como a maior produção realizada pelo grupo. Além do numeroso elenco, o espetáculo reúne 17 músicos regidos pelo maestro Marcelo Castro, cerca de 160 figurinos assinados por Marcelo Pies – que acaba de ganhar o Prêmio Shell por ‘Hair’ –, nove trocas de cenário, a cargo de Rogério Falcão, e a recriação coreográfica original de Jerome Robbins, feita por Janice Botelho. A grandiosidade é apenas um dos desafios encontrados ao se montar este que é considerado o ‘Rei Lear’ dos musicais.
Além da complexidade de produção, a célebre peça de Shakespeare também encontra paralelos no enredo de ‘Um Violinista no Telhado’. Assim como Lear, Tevye (José Mayer) entra em conflito com três filhas, Tzeitel (Rachel Rennhack), Hodel (Malu Rodrigues) e Chava (Julia Bernat), que desafiam a tradição judaica, ao rejeitar os casamentos arranjados e adotar comportamentos que desviam do estabelecido. Ao lado da esposa Golda, vivida por Soraya Ravenle, ele tenta dar conta dos conflitos familiares enquanto enfrenta a hostilidade de grupos russos orientados pelas diretrizes anti-semitas do Czar.
O Grupo Bradesco Seguros é o principal patrocinador do espetáculo ‘Um Violinista no Telhado’. A iniciativa faz parte do Circuito Cultural Bradesco Seguros, que apresenta todos os anos um calendário diversificado de eventos artísticos com peças de grande sucesso, musicais, concertos de música e exposições.

O desafio de Mayer
Sem nunca perder a leveza – como um violinista –, Tevye lida à sua maneira com estes conflitos. Entre bem-humoradas conversas com Deus e com a esposa, ele busca conciliar as tradições ancestrais com a realidade de suas filhas e do local onde vive. Prova de fogo para qualquer ator, o personagem exige um intérprete carismático, que equilibre técnica vocal e comunicação com a plateia. Charles Möeller e Claudio Botelho logo pensaram em José Mayer para o desafio.
O ator, por sua vez, já acalentava o sonho de fazer um musical há pelo menos três anos, quando começou a freqüentar aulas de canto com regularidade. Em seu último trabalho nos palcos, ‘Um Boêmio no Céu’ (2007), Mayer já entoava algumas canções de Catulo da Paixão Cearense. Agora ele se prepara para dar vida a números famosos, como ‘If I Were a Rich Man’ (‘Se eu fosse Rico’), que fizeram a fama de vários intérpretes mundo afora.
Como Tevye original da Broadway, o grande comediante Zero Mostel recebeu o Tony de Melhor Ator de Musical. Recentemente remontado na broadway, o musical teve Alfred Molina como Tevye, o que rendeu ao ator uma indicação ao prêmio Tony de Melhor Ator em 2004.
Claudio Botelho, autor da versão brasileira e supervisor musical desta montagem, confirma que ‘o papel de Tevye exige uma das maiores entregas vocais de personagens masculinos entre os musicais da Broadway. As canções dele se alternam entre temas judaicos suaves e bem-humorados (‘If I Were a Rich Man’), passando por fortes e dramáticos solilóquios e chegando ao extremo lirismo num emocionante dueto com a esposa Golda (‘Do you Love me?’). Se há mesmo um Rei Lear entre os papeis masculinos dentro do teatro musical, este é Tevye’.
Ao lado de Mayer, a veteraníssima de musicais Soraya Ravenle também se prepara para uma estreia. ‘Um Violinista no Telhado’ será seu primeiro musical internacional. Estrela de sucessos brasileiros como ‘Ópera do Malandro’ (2003), ‘Sassaricando’ (2007), ‘Dolores’ (1999) e ‘South American Way’ (2001), ela fará o primeiro trabalho interpretando versões em português para os grandes momentos cantados de seu personagem, ‘Do you Love Me?’ e ‘Sunrise, Sunset’.
Paz, amor e tradição
Mayer e Ravenle, ou melhor, Tevye e Golda, vivem em Anatevka, uma fictícia aldeia judaica no interior da Rússia no início do século passado. Em seu entorno, habitam moradores típicos, como o rabino (José Steinberg), a casamenteira (Ada Chaseliov), o açougueiro (Dudu Sandroni), o mendigo (Leo Wainer) e o forasteiro (Nicola Lama), que chega para modificar alguns costumes seculares destes personagens. Entre rezas e festas tradicionais, shabats e casamentos, a trama de ‘Um Violinista no Telhado’ se desenrola e serve de vitrine para os costumes judeus.
‘É muito interessante abordar o universo dos judeus bem antes do nazismo, quando já eram um povo expatriado. O que os mantém juntos é a tradição. Eles poderiam ter desaparecido, mas não aconteceu por causa, fundamentalmente, de um amor maior à família, à tradição e aos rituais. É muito bonito falar disso depois de um espetáculo que é um ritual, como o ‘Hair’’, analisa Charles Möeller.
Assim como em todos os últimos espetáculos de Möeller e Botelho, todo o elenco foi escolhido por testes, em concorridas audições cuja variedade de papeis – e inscritos – chamava a atenção. ‘É com certeza o nosso maior e mais variado elenco. Ele vai, literalmente dos 8 aos 80 anos’, conta Möeller. Entre crianças, jovens e adultos, o musical também marca o retorno de Marya Bravo (‘7 – O Musical’, ‘Lado a Lado com Sondheim’) aos trabalhos da dupla e o reencontro de André Loddi, Julia Bernat e Malu Rodrigues, jovem trio revelado em ‘O Despertar da Primavera’ (2009).

Dando vida a Anatevka
A aparente harmonia em que vive todo o povo de Anatevka oculta um cenário externo nada amistoso. Era a época dos conhecidos Pogroms, ataques em massa com clara finalidade de expulsão de judeus do território russo. ‘Não procurei tratar os russos como vilões, nem como mocinhos, não queria idealizar nada. O fato é que existia uma polícia secreta russa, que insuflava os ataques. O pogrom era incitado pela polícia, mas não era feito por ela. O povo judeu era uma espécie de bode expiatório para a população miserável não olhar para a riqueza do Czar’, analisa Möeller.
Anatevka funciona como um arquétipo de todas as pequenas aldeias judaicas da Europa Central no início do século passado. Para representá-la, o cenógrafo Rogério Falcão (‘A Noviça Rebelde’, ‘O Despertar da Primavera’, ‘Hair’) criou uma estrutura básica, em tom de madeira, com as casas da aldeia nas laterais, que saem de cena quando a ação se transfere para o interior.
‘Como o elenco é muito numeroso, tivemos a preocupação em deixar um bom espaço livre para a circulação dos atores e para as coreografias’, conta Rogério. Assim como ele, o figurinista Marcelo Pies precisou aumentar sua equipe para confeccionar os 160 figurinos de época, ricos em detalhes e com um elaborado trabalho de envelhecimento.
O maior desafio da dupla foi o número em que Tevye relata um sonho, que contará com efeitos nunca usados em palcos brasileiros. A cena tem discreta inspiração em ‘A Noiva Cadáver’, de Tim Burton, e vai trazer os atores com figurinos de mortos-vivos e máscaras produzidas especialmente para a montagem. A iluminação de Paulo César Medeiros e o visagismo, a cargo de Beto Carramanhos (‘7 – O Musical’, ‘Gypsy’) completarão o clima fantasmagórico do momento.

Décadas de sucesso
Toda a equipe criativa do musical contou com a consultoria de especialistas em cultura judaica, para não deixar nenhum detalhe escapar. Rogério chegou a ter que projetar novamente alguns elementos cenográficos para garantir a fidelidade ao universo ali retratado. O elenco participou, inclusive, de um workshop em que palestrantes como Michel Gherman, mestre em História Judaica pela Universidade Hebraica de Jerusalém, e o ator e pesquisador Claudio Erlichman deram um panorama histórico e mostraram toda a relevância que a obra possui dentro e fora da comunidade judaica.
Considerado um dos grandes clássicos da Broadway, ‘Um Violinista no Telhado’ tem uma longeva trajetória ao redor do mundo. Na época de sua estreia, em 1964, bateu todos os recordes de permanência, ficou quase oito anos em cartaz e arrebatou dez indicações ao Tony, vencendo em nove categorias. A montagem londrina de 1967 viria a consagrar o ator israelense Topol como Tevye, personagem que ele viveu também no filme (‘Fiddler on the Roof’, 1971) e até hoje segue em turnê pelos Estados Unidos. No mesmo ano de lançamento do longa-metragem, estreou a primeira versão brasileira do musical, protagonizada por Oswaldo Loureiro e Ida Gomes.

UM VIOLINISTA NO TELHADO
UM ESPETÁCULO DE Charles Möeller enbsp;Claudio Botelho
Baseado em histórias de Sholem Aleichem, sob permissão especial de Arnold Perl
TEXTO
Joseph Stein
LETRAS
Sheldon Harnick
MÚSICA
Jerry Bock
VERSÃO BRASILEIRA
Claudio Botelho
DIREÇÃO
Charles Möeller

ELENCO

José Mayer – Tevye
Soraya Ravenle – Golda

Rachel Rennhack – Tzeitel
Malu Rodrigues – Hodel
Julia Bernat – Chava
Ada Chaseliov – Yente
Dudu Sandroni – Lazar Wolf
Marya Bravo – Fruma Sarah
Nicola Lama – Perchik
André Loddi – Motel
Cirilo Luna – Fyedka 
Kelzy Ecard – Shandel

Com Arthur Marques, Augusto Arcanjo, Beto Vandesteen, Carlos Sanmartin, Cássio Pandolfi, Cristiana Pompeo, Darwin Del Fabro, Emmanuel Pasqualini, Fabio Porto, Giulia Nadruz, Guilherme Lazary, Jitman Vibranovski, José Steinberg, Julia Porto, Karin Dreyer, Léo Wainer, Lucas Drummond, Ricca Barros, Rodrigo Cirne, Sergio Stern, Tomás Quaresma, Wallace Ramires e Yashar Zambuzzi.
E as crianças Hannah Zeitone, Jonas Queiroz, Rachel Bonfante, Sofia Viamonte e Tié de Kühl e Machado.
DIREÇÃO MUSICAL
Marcelo Castro
COREOGRAFIA ORIGINAL
Jerome Robbins
RECRIAÇÃO COREOGRÁFICA
Janice Botelho
CENÁRIO
Rogério Falcão
FIGURINOS
Marcelo Pies
ILUMINAÇÃO
Paulo Cesar Medeiros
DESIGN DE SOM
Marcelo Claret 
VISAGISMO
Beto Carramanhos
COORDENAÇÃO ARTÍSTICA
Tina Salles
CASTING
Marcela Altberg
PRODUÇÃO EXECUTIVA
Aniela Jordan e Luiz Calainho


SERVIÇO

Estreia dia 20 de maio
Temporada de 20 de maio a 18 de setembro

Teatro Oi Casa Grande
Av. Afrânio de Mello Franco, 290 – Leblon.
Tel:nbsp; (21) 2511- 0800

Quintas e sextas, às 21h. Sábados, às 17h30 e 21h30. Domingos, às 19h.

Preços:

Quintas e sextas
Camarote R$ 120
Platéia Vip R$ 120
Platéia Setor 1 R$ 100
Balcão Setor 2 R$ 80
Balcão Setor 3 R$ 40

Sábados e domingos
Camarote R$ 150
Platéia Vip R$ 150
Platéia Setor 1 R$ 120 
Balcão Setor 2 R$ 100 
Balcão Setor 3 R$ 60

Horários da Bilheteria:
Terça e quarta das 15h às 20h, quinta e sexta 15h às 21h, sábados 12h às 21h30, domingos 12h às 19h. 

Ingressos pela Internet: www.ingresso.com

A
 bilheteria aceita todos os cartões de crédito e de débito

Acesso para deficientes físicos e poltronas para obesos

Capacidade do teatro: 926 lugares
Duração do espetáculo: 130 minutos (com intervalo de 15 minutos)
Classificação etária: 5 anos