Distante Nós Vamos
Primeiro filme da minha terceira noite de Festival. E que começo estupendo! A cena de abertura já vale o filme. É difícil não se identificar com a história do filme estando na casa dos 30 como estou. As incertezas e inseguranças que nos rodeiam neste momento estão todas retratadas lá. Vejam a sinopse:
“Burt e Verona têm trinta e poucos anos e terão um filho. Os dois têm trabalhos flexíveis, gostam de viajar e desejam compartilhar sua nova experiência com pessoas queridas. Quando os pais de Burt decidem se mudar para a Bélgica, nada mais prende o jovem casal à pequena cidade onde vivem. Com amigos morando em todos os cantos dos EUA, se perguntam qual seria o melhor lugar para criar seu bebê. Empreendem assim uma longa viagem, na qual visitam amigos e parentes e testemunham diferentes modelos familiares, com o intuito de decidir onde e na companhia de quem construir o novo lar.”
O casal mete o pé na estrada de carro, de trem e de avião. Indo para diversos lugares à procura de um modelo ideal. Personagens entram e saem ao longo de sua jornada, sempre dizendo a que vieram, sempre acrescentando algo, positiva ou negativamente, ao casal e à história. Aí está a força do filme, a relação entre as pessoas, a relação entre marido e mulher, a relação do casal com suas famílias e com seus amigos. Todos os questionamentos, incertezas e inseguranças nascem destas relações. O diretor soube tirar proveito disso e, de forma leve e otimista, mexeu com muitas emoções.
A personagem zen de Maggie Gyllenhaal merece destaque, embora muitas das figuras que aparecem sejam engraçadas. O elenco é equilibrado, embora alguns rostos sejam mais conhecidos que outros. O filme é belo, com diálogos ágeis e questionamentos profundos sobre a vida como casal, como pais e como família. Uma certeza fica: não há modelo a ser seguido!
Nota 9
Whisky com Vodka
“Otto, ator com 30 anos de fama que faz sucesso com as mulheres, tem uma certa queda para o álcool. O excesso de bebida faz com que ele perca um dia de filmagem em seu novo filme e, como garantia, os produtores chamam o jovem e desconhecido Arno como substituto para seu papel. Assim, todas as cenas passam a ser gravadas duas vezes, uma com Otto, outra com Arno, provocando um duelo de gerações. Mas esta não é a única preocupação de Otto. Ele também tem de aprender a conviver com Bettina, antiga amante, que é novamente seu par na tela, e par do diretor fora dela.”
Otto é o fio condutor da história e também é o personagem mais interessante da trama. Num primeiro momento, cria-se uma antipatia ao personagem por conta de sua vaidade, mas, ao longo do filme, nada além de simpatia é o que sobra. O bacana é que ninguém é mal ou ruim: todos tem um quê de cada. Todos são humanos e buscam o seu lugar ao sol.
O diretor soube dosar as emoções e soube ser leve ou denso quando preciso. É claro que o elenco ajuda muito, com interpretações seguras em seus muitos personagens, uma vez que cada um tem dois papéis: os personagens do filme e os do filme dentro do filme. Aliás, a ideia de um filme de época dentro de um filme contemporâneo foi bem interessante, não como confundir as coisas, mesmo quando as histórias misturam-se. É whisky e vodka.
Nota 9
Abraços partidos
“Há 14 anos, o cineasta Mateo Blanco sofreu um trágico acidente de carro no qual perdeu simultaneamente a visão e sua grande paixão, Lena. Sofrendo aparentemente de perda de memória, abandonou sua persona de cineasta e preservou apenas sua faceta de escritor, cujo pseudônimo é Harry Caine. Um dia, Diego, o filho de sua antiga e fiel diretora de produção, sofre um acidente, e Harry vai ao seu socorro. Quando o jovem indaga Harry sobre seus dias de cineasta, o amargurado homem revela se lembrar de detalhes marcantes de sua vida e do acidente.”
É difícil falar sobre um filme de Almodóvar, pois, como tudo que vale a pena, muitos amam e muitos odeiam. Creio que, como sempre, vai ser difícil que as opiniões não se dividam. É líquido e certo que muita gente exaltará e muita gente malhará mais esta película do espanhol. Eu fico no primeiro time.
O longa passeia pela vida de Harry Caine de maneira sublime. Aliás, o ator Lluís Homar faz um belo trabalho. A metalinguagem também está presente neste filme e faz inúmeras referências a obras do próprio diretor, a ele mesmo e a outros diretores. Há, ainda, Penélope Cruz, em grande forma, musa maior do diretor.
Que me perdoem aqueles que não gostaram, mas a história é boa e a condução é perfeita. Não há exageros em nada, os personagens são críveis e as situações também. Drama e comédia são bem dosados e tudo é verossímil. Ótimo filme e ótima diversão. Mais uma grande obra deste cineasta genial.
Nota 10
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